Morremos nós, simples mortais, ficam os nós, atemporais. Ficam as filhas, ilhas, em busca de um colo de mãe, fica a mãe-terra, e a que não mais germina, fica dentro de nós a menina. Morremos sós.
O escuro do mundo das trevas, para onde somos arrancados volta e meia: pesadelos, hospitais, loucuras temporárias, paixões imaginárias, viagens solitárias, delírios, um carro atolado na estrada de terra à noite, uma obsessão, um porre, um cartão de ponto, carnaval, coração que dispara instantes. Fora de órbita, fora do ar, fora de si. Amnésia. Gagueira súbita e fugaz, que paralisa a voz, sai de si, interrompe o pensamento lógico, lapsos, tonteiras, brancos, ausências, esquecimentos, desligamentos, mentiras aderentes, camas convalescentes, câimbras, comas, memória que turva, neblinas na curva, lembranças que falham, mãos que se atrapalham, pés que tropeçam, palavras que escapam, voz que treme, mãos que tremem, um degrau a mais na escada do metrô e caio de joelhos porque fui ler a filipeta da manicure com óculos para perto e o chão saiu de foco. E sonhos, sonos, sufocos, tudo pertence a Hades.
Quando me perco no escuro de mim mesma e combino com a realidade necessária que vou fingir aceitá-la, e que a terra é firme, o amor seguro, e que é justo pagar contas em dia, e que então tá.
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