O Vampiro de Curitiba
— Cinquenta metros quadrados de verde por pessoa de que te servem se uma em duas vale por três chatos?
—O amor é como uma corruíra no jardim — de repente ela canta e muda toda a paisagem.
— Aos quarenta anos você pede menos que Diógenes, nem reclama da sombra de Alexandre na soleira do tonel.
— Ele manda e desmanda no vento. Ralha com a chuva. Castiga o raio. Silencia o protesto do trovão. Só pela velha não é obedecido.
— O vaga-lume risca um fósforo outro mais outro sem acertar a chave na porta.
— Corta essa cara. De que serve fazer bem uma gaiola se nenhum passarinho quer entrar?
— Espiou-a encher o copo no filtro, sorver a metade e deixar o resto.
— Essa aí nem beber água sabe.
— Ai de Sansão, fosse bom amante, não o trocaria Dalila por um filisteu qualquer.
— O velho na agonia, no último gemido para a filha:
— Lá no caixão...
— Sim, paizinho.
— ...não deixe essa aí me beijar.
— Chorando baixinho, o velho disca todas as combinações possíveis. Mas não acerta o número da própria casa.
— A velhinha meio cega, trêmula e desdentada:
— Assim que ele morra eu começo a viver.
— Quem lhe dera o estilo do suicida no último bilhete.
— Em agonia, roncando e gemendo, afasta a boca medonha da velha:
— Só me beije depois de morto.
Mini-histórias extraídas do livro "Ah, é?", Distribuidora Record de Serviços de Imprensa - Rio de Janeiro, 1994, pág. 05 e seguintes.
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