7 de fev. de 2012

Envelhecer é fonda, Jane Foda.

Jane Fonda, querida, me poupe dessa escadaria do espírito.
Só de pensar, canso. E meu joelho doi.
Discordo de você.
Deixar-se envelhecer com tranquilidade significaria, na minha opinião, deixar mechas de cabelos brancos, não fazer tanta plástica.
Deixar o tempo entrar, não somente em nosso espírito, mas também em nossa aparência.
O terceiro ato é praticamente epílogo
(Depois dos sessenta: terceiro ato. Escadaria. Palestra de Jane Fonda:

Clique para ver e ouvir.)


Minha amiga sábia diz que existem mulheres que aparentam setenta, e mulheres que aparentam setenta com plástica.
O fígado, o estômago, as articulações, os dentes, o intestino, as unhas, o cabelo, todo nosso ecossistema interno envelhece.
De que adianta ter cara de quarenta se o joelho doi igualzinho uma senhora de sessenta? Quanto custou sua cara?

Parecer mais jovem é uma faca de dois gumes.
Às vezes me convidam para programas joviais como blocos de rua, escaladas, mega shows que eu não ia nem com trinta. Um malentendido e tanto.
Como diz meu amigo careca, barrigudo e simpaticão: "Depois dos sessenta, o importante é ser limpinho".

Jane Fonda, você queria mesmo ser a Fernanda Montenegro, que envelhece com cada vez mais talento e aparentando a idade que tem.
Jane é mais uma Ana Maria Braga, Hebe Camargo, Rita Lee (credo, vc viu?), Dercy Gonçalves (que finalmente morreu?), Suzana Vieira, Marília Pera, e outros Michael Jacksons que, insatisfeitos com a aparência, se transformam em monstros sem maquiagem.
Bonitinho mesmo, Fonda, é envelhecer como o Caetano, o Gil, o Chico Buarque, a Betânia, ou melhor, Dona Betânia.
Elevar o espírito é tarefa pra qualquer idade.
Perdemos o poder do corpo, Jane, esse nosso, que conquistou tanto,  nos deu tanto prazer.
Com sua energia, nos levou a tantos lugares, nos defendeu de tantos perigos, aquele corpo tinha a Força: nos proporcionava sonhos, planos, desejos, orgulho, alegria. O corpitchu, quando se vai, leva muito de nós.
A idade traz dor, Jane, you know.


Aconselhe os jovens a não se preocuparem tanto com a pele, o cigarro, os músculos, a alimentação.
O que nos fode, Fonda, é a coluna, a espinha. E como doi, não é mesmo?

Fonda, envelheça como a Leila, sem fazer esforços, sem lutar contra, envelheça como eu, calminha, de mecha branca pra validar meus cinquenta e sete, e tinta preta no resto do cabelo pra lembrar que eu gostaria mesmo é de ser jovem de novo, mesmo sem sabedoria.
Encare os fatos, bonitinha: envelhecer é uma merda.
Mas não vamos chorar por causa disso, nem ficar elogiando a velhice, que isso é para os que não se conformam.
Eu tento me conformar, adquirir outra forma, reformar-me, restaurar-me, como uma casa antiga.


Quando aprendemos finalmente as respostas, as perguntas já mudaram, Jane.
A sabedoria é dinâmica.


Uma questão temos um comum: o que fazer com estes trinta anos que ganhamos a mais?
Essa espécie de brinde Cavalo de Troia.
Ser uma excelente avó é uma boa ideia.
Dirigir filmes, escrever, pintar, cantar, ler, estudar, enfim, coisas que possamos fazer sentadas.
Ou andando devagar porque não temos pressa, levando este sorriso porque já andei demais.
Internet também é uma boa ideia. Meu sogro octogenário se diverte muito.




Eu trocaria a sabedoria dolorida dos cinquenta e sete pela animação dos trinta.
Mas pra mim é fácil: já nasci sábia.
Com oito anos de idade (tenho o caderninho pra comprovar), fiz este versinho rimado:

"As velhinhas têm um caso,
querem rejuvelhecer.
Quanto mais rejuvelhecem,
mais jovens irão morrer".

É foda, Fonda.
Envelhecer é foda!


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