26 de nov. de 2011

Sísifo, teleatendimento e mulher pelada.

 Sísifo traiu Zeus ao revelar uma de suas aventuras. Zeus, pra quem não sabe, é capaz de disfarcar-se de boi, chuva, e até no marido da pessoa para conquistar a deusa, ninfa ou mulher que achasse interessante.


Zeus enviou-lhe a morte, mas Sísifo conseguiu aprisoná-la. Ninguém morria mais.
Hades, deus do mundo subterrâneo dos mortos, ficou sem fila na porta. Seu reino não bombava mais. Apresentou queixa a Zeus. Zeus, como castigo, não só libertou a Morte, mas deu a Sísifo o mais terrível dos castigos: condenou-o a rolar eternamente uma pedra colina acima e, quando a pedra estava no topo, rolava de volta. 

Sísifo teria que empurrá-la para cima, vê-la rolar e repetir o procedimento. Uma espécie de trabalho alienado, onde a gente não sabe pra que serve o que estamos fazendo. Não serve pra nada.
Esse esforço sem sentido, de Sísifo, o que tem em comum conosco?
Sísifo, quando empurra a pedra morro acima, somos nós tentando acompanhar as modernidades da tecnologia ou comunicar-se com uma empresa prestadora de serviços. Quando você finalmente aprende a usar o Gmail ele muda de cara, a pedra rolou. Quando você é fera no Orkut, cria- o Facebook, e rola a pedra. Quando você tem que ligar para o teleatendimento, e desligam na tua cara ou colocam musiquinha. Disque um, disque dois, disque nove. Depois anotar aqueles números do protocolo, que não são alfanuméricos de propósito, pra gente desistir de anotar, tudo isso é Sísifo.
Sísifo é o trabalho alienado, a vida que cria necessidades em vez de satisfazê-las. Sísifo é o teleatendimento.
O trabalho de Sísifo é discutir a relação, ligar pra operadora, receber uma ligação do telemarketing, aprender a utilizar um programa novo e este rolar, ser substituído por outro mais moderno. Sísifo, em suma, é a busca eterna pelo novo e pela versão mais atual.
O abandono das tradições.
Só uma pessoa é capaz de interromper o trabalho de Sísifo: aquela criança que entrou numa imensa loja de departamentos e disse para a mãe: Olha, mãe, quanta coisa a gente nem precisa!

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